25 de out. de 2009

Amor, sublime amor

Shot014O jovem Mohammed Warda ganhava a vida, na Faixa de Gaza, como guarda-costas. Perdeu o emprego depois que o Hamas anexou o grupo para o qual ele trabalhava.

Mohammed passou a receber US$25,00 por mês, pagos por seu ex-grupo, para guardar-lhe os segredos.

A jovem May vivia em Ramallah, na Cisjordânia, e estava no ângulo de alcance de uma webcam quando a família de Mohammed conversava, pela internet, com a sua família: são primos.

Os dois se viram e, como nestes contos de amor à primeira vista, amaram-se à primeira vista, via internet.

A Faixa de Gaza está bloqueada por Israel: ninguém entra, ninguém sai.

Já que Mohammed não podia sair, May resolveu entrar: os dois marcaram o casamento.

Para isto, Mohammed lançou mão de todas as suas economias, conseguindo juntar US$ 1.500, quantia cobrada pelos controladores dos túneis clandestinos que saem do Egito até a Faixa de Gaza: comprou a passagem de May.

May foi conduzida pelos pais desde a Cisjordânia, passando pela Jordânia e chegando ao Egito, onde iniciaria a sua jornada subterrânea rumo à Mohammed.

Arrastar-se pelos túneis clandestinos desde o Egito até a Faixa de Gaza é uma jornada infernal, correndo o risco de não chegar.

O túnel é baixo, sendo preciso engatinhar; os egípcios os procuram sob o deserto todos os dias e, quando os acham, bombardeiam-nos, sem perguntar se tem alguém dentro; eles desmoronam constantemente, pois são cavados na areia fina do deserto.

No dia marcado, Mohammed prostou-se ao fim do túnel, do lado do campo de refugiados de Nuseirat, e começou a rogar ao Profeta que guiasse e protegesse a sua amada na jornada até ele.

May, de olhos fechados para neles não lhe cair o deserto, fixava o pensamento em Mohammed, para não perder a coragem de prosseguir.

Como Allah protege os bêbados e os apaixonados, após a eternidade de uma hora, saiu ao escaldante Sol da Faixa de Gaza, uma exausta May, enlameada de poeira e suor.

Mohammed, ao ver a sua amada, gritava a sua felicidade em agradecimentos ao Profeta, enquanto limpava, com as mãos, o rosto de May, para enxergar-lhe a tez que o apaixonara.

Agora, os dois, casados, enfrentarão um desafio tão grande quanto a epopéia da viagem: continuarem apaixonados com os míseros US$ 25 que ele recebe por mês.

Mas isto é outra história.

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