21 de abr. de 2008

O brado dos tambores

tambores[1] O General Heleno, Comandante Militar da Amazônia, ao participar do Seminário Brasil, Ameaças a sua Soberania, no Clube Militar do Rio de Janeiro, desqualificou a política indígena brasileira.

A fala do general se fez em crítica à demarcação contínua da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, considerando tal disposição como uma ameaça à soberania nacional, por esta se encontrar em área de fronteira.

O militar, para dar substancia a sua opinião, soltou uma frase de efeito à platéia: "Não sou da esquerda escocesa, que, atrás de um copo de uísque 12 anos, sentada na Avenida Atlântica, resolve os problemas do Brasil inteiro. Já visitei mais de 15 comunidades indígenas, estou vendo o problema do índio."

O Presidente da República não gostou da opinião do General e determinou ao Ministro da Justiça que o chamasse às falas.

Os clubes militares publicaram notas de apoio ao General Heleno. A nota atrevida veio do Tenente-Brigadeiro Ivan Frota, que preside o Clube da Aeronáutica.

A nota assinada por Frota ameaça a Presidência: para quem quiser assim entender, Frota avisa que as Forças Armadas estão prontas para reeditar março de 1964 caso o Presidente ouse reprimir o General Heleno.

O General Heleno pode manifestar a sua opinião a quem quiser e como quiser, mas, esta coisa de dizer que o Exército serve ao Brasil e não ao governo é apenas mais uma frase de efeito: os governos eleitos democraticamente é que têm a legalidade e a legitimidade para falar pelo Brasil. Como o Presidente Lula foi eleito pelo povo, O General, que jurou respeito à lei e a ordem, deve-lhe continência e ponto final.

Não se deve desprezar a opinião do General Heleno sobre reservas indígenas em áreas de fronteira: esta é uma discussão que o Brasil não deveria passar ao largo.

Todavia, o conhecimento de causa do General acaba exatamente no que tange à segurança nacional. Ele achar que conhece a causa indígena só porque já visitou 15 aldeias é uma bravata desnecessária: o General conhece a causa indígena com a mesma profundidade que os antropólogos na FUNAI conhecem soberania nacional.

Quanto ao Tenente-Brigadeiro Frota, tudo o que os soldados saudosos da ditadura militar podem ainda fazer é soltar notas malcriadas a partir de presidências de clubes militares, para dar alguma satisfação à parte da tropa que acha que o Brasil será invadido no próximo alvorecer e exultar os corações dos civis que lustravam as botas dos generais com as suas respectivas línguas.

Não procede também a desculpa de que a caserna estranha a reprimenda de Lula ao General Heleno por este ter criticado a política indigenista ao passo que tem aturado as críticas de membros do governo à política econômica.

Um civil fazer críticas dentro do governo é próprio da dialética democrática: ele não tem uma tropa ao seu comando, armada até os dentes, doida para fazer das manobras algo mais que simples fumaça.

As democracias limitam os militares aos quartéis como salvaguardas de si mesmas: críticas de militares sempre soam como ameaça.

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