14 de abr. de 2008

Entrevista com Delfim

Delfim Neto. Clique na foto para seguir o link. A mais recente edição da revista Poder publicou uma entrevista com Delfim Neto, que está às vésperas de completar 80 anos.

O ex-ministro de todas as pastas continua sendo uma das vozes ouvidas por 10 dentre 10 economistas brasileiros.

Alguns trechos da entrevista merecem destaque:

Sobre Lula:

Acha que Lula tem uma inteligência privilegiada e que o Presidente salvou o capitalismo brasileiro ao aumentar a igualdade de oportunidades.

Defende os programas de distribuição de renda, alegando que estes são fundamentais para “dar moralidade ao capitalismo”.

Afirma que os programas sociais de Lula são um assistencialismo necessário e funcionam como uma porta de saída para os pobres à medida que vinculam o recebimento com educação, o que é uma mudança de concepção.

Elogia o PAC como a retomada de investimentos públicos em infra estrutura.

“O Lula é um sobrevivente. O Lula é o Darwin andando. É um processo da seleção natural mesmo, e com uma vantagem: nunca leu Karl Marx”.

Sobre FHC:

Recorda que FHC legou um Brasil falido em 2002, com inflação de 30% ao ano, exportações crescendo a 4,5%, a dívida externa crescendo 6,5% ao ano, e meros US$17 bilhões de reservas.

Com as circunstâncias favoráveis bem aproveitadas por Lula, as reservas são de US$193bilhões, as exportações crescem 18% ao ano e as importações crescem 45% ao ano.

Continua a desancar FHC: “o Fernando gastou um tempo imenso na reeleição e com métodos heterodoxos. O tempo que ele poderia ter aproveitado para fazer o desenvolvimento, ele aproveitou para se reeleger. E o que é pior: pra nada. Porque o segundo mandato foi mais lamentável que o primeiro”.

2010 e a Economia:

Ensina que desde os anos 40 estudos empíricos mostram que o fator mais importante na eleição é o econômico.

Imagina que Lula terá grande influência na sua sucessão se o Brasil continuar crescendo 5% a 6% ao ano, “como tudo indica que vai continuar”.

Avisa que dois fatores podem abortar o crescimento: “a crise energética e a crise em contas correntes”. Mas, acha que o governo está providenciando para que tais fatores não ocorram.

Os presidenciáveis:

Enumera Ciro Gomes, José Serra, Aécio neves, Dilma Rousseff e Patrus Ananias.

Elogia Dilma como a mais eficiente ministra do governo, mas adverte que ela nunca foi testada nas urnas.

Laureia Aécio e Serra como administradores competentes, embora faça ressalvas ao partido de ambos: “o PSDB é uma coisa insondável”.

Diz que o Ciro vai pela tangente: “o Ciro é uma coisa estranha, de vez em quando ele tropeça nele mesmo. Se não tropeçar nele mesmo, a coisa do Ciro é muito mais séria do que parece. Ele tem uma mensagem que fala à sociedade”.

O Brasil no mundo:

Acha que o Brasil continuará crescendo entre 5% e 6% ao ano, mas poderá ter problemas com uma eventual queda dos preços dos produtos agrícolas e minerais que são exportados.

Achincalha a política da Organização Mundial do Comércio que quer legar ao “Brasil, a agricultura e o minério, para a Índia, os serviços, e para a China, a indústria”.

Aconselha que o Brasil não se deve submeter a esta política: “nós vamos ter, daqui a 25 anos, de 240 a 250 milhões de habitantes, teremos de dar emprego para 140 milhões de brasileiros entre 15 e 65 anos, ninguém vai fazer isso com exportação agrícola e mineral”.

Direitos adquiridos:

Reconhece que a defesa do meio ambiente é um negócio definitivo.

“Eu, quando era moleque nas ruas do Cambuci, matava passarinho e comia o passarinho. Hoje, qualquer criança, se você contar isso, tem de ir para um psiquiatra”.

Aponta como conquista irreversível o direito dos trabalhadores.

Real X Dólar:

Conta que quando perguntaram a Warren Buffett, como ele ganhou US$100 milhões com o real, ele respondeu que foi porque tinha uns idiotas no Brasil.

Desmistifica os juros altos como sendo um sofisma inventado no primeiro mandato do FHC, que elevou os juros reais a 22% para manter o real valorizado.

A explicação era que se o País não pagasse a taxa os bancos brasileiros não financiariam a dívida pública.

“Vão aplicar onde? Vão ter de aplicar no setor privado a taxas ainda mais baixas. Tudo isso é uma das maiores mistificações em nome da ciência econômica já construídas”.

Aplicando dinheiro:

Confessa que nunca aplicou em ações, mas, reconhece que, no longo prazo, a bolsa é a melhor aplicação.

“Quem aplica em bolsa tem de estudar, tem de prestar atenção. Quem não tem tempo pra isso é melhor comprar um fundinho.

Leituras:

Afirma que para entender o mundo é preciso entender a economia que o faz girar.

Para tal, aconselha dois livros de Adam Smith: Teoria dos Sentimentos Morais e A Riqueza das Nações.

Debita à imoralidade de funcionamento do sistema econômico a sua maior crise.

“O sistema financeiro nasceu para servir a economia real, mas ele se apropriou da economia real. Qual é a única regra moral do sistema financeiro? O maior lucro possível, no menor tempo possível, para obter o maior bônus possível e correr para aplicar em papéis do Tesouro americano”.

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