10 de dez. de 2007

Pertinências

Deixando fugir - David Ho

Em 2003, 20% do Estado do Pará estava desflorestado. Isto quer dizer que o Pará derrubou, até aquele ano, 240 mil Km² de florestas, já que a área total do Estado é de 1.200,000,00 Km².

O percentual de desflorestamento cresceu e hoje o Pará só perde nesta insanidade para o Mato Grosso.

A insanidade se aplica à medida que é duvidosa a sustentabilidade dos empreendimentos dela conseqüentes e absolutamente certa a privatização dos lucros deles advindos ao custo da socialização do passivo ambiental que geram.

Em claro texto: quem desfloresta fica com o lucro e à sociedade é debitado o prejuízo.

Não procede invocar Adam Smith para dizer que isto gera riqueza e desenvolvimento, pois, devo recorrer ao parágrafo anterior para contrapor a tese, com aquela pergunta titular de Hemingway: por quem os sinos dobram nesta derrubada?

Um dado escatológico: 21% do desflorestamento do Pará, neste ano de 2007, se deu em áreas protegidas por lei, que, em tese, deveriam estar imunes à motosserra.

Uma informação: a França tem 543.965 km² e a Inglaterra 130.395 km².

Um fato: os dois países acima são parte do mundo desenvolvido e suas economias estão entre as mais sólidas do planeta, a França com um PIB de um trilhão e novecentos bilhões de dólares e a Inglaterra com um PIB de dois trilhões e 140 bilhões de dólares.

Uma constatação: aqueles dois países não precisaram desflorestar um mesmo percentual de área que o Pará já o fez para dobrarem os seus respectivos sinos, seja lá por quem os tenham soado.

Uma amargura: o Pará, com área desflorestada equivalente a metade da França e ao dobro da Inglaterra não conseguiu gerar 1 décimo da riqueza que aqueles países conseguiram, e a desculpa de quem  fez o aceiro era de que a brasa era para gerar riqueza.

Um desejo: os respeitáveis senhores do agro business no Pará, querem que o Governo reduza a reserva legal atual de 80% para 50%, pois só assim pode o Estado sair do engessamento ao qual foi relegado pelo Código Florestal.

Uma pergunta: por que os senhores que se pretendem os arautos e condutores do desenvolvimento do Estado do Pará precisam de mais da metade da área da França e de mais do que o dobro da área da Inglaterra para dobrarem os seus sinos?

Uma sugestão: está na hora de parar para arrumar, ao se concluir que, no mínimo, o método usado até agora está equivocado, já que os índices sociais do Pará estão entre os mais baixos do Brasil.

Moral da história: não é o tamanho da área que define o grau do desenvolvimento gerado com a sua exploração, mas a eficiência com a qual ela é conduzida e a responsabilidade sócio-ambiental com a qual ela é gerida.

A continuar assim, continuarão os lucros do ambiente sendo privatizados e o passivo sendo socializado.

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