6 de ago. de 2007

Caviar com rapadura

caviarapa[1]

Estamos acostumados a ver marchas e passeatas. Já estamos cansados delas: atrapalham o trânsito e atrasam a nossa pressa, afinal, o homem moderno é um  ser toscamente apressado.

Não mais nos comove as caminhadas do MST, da CUT, da CGT, da UNE ou dos professores.

Eles podem desfilar à vontade, com os cartazes que quiserem. Podem falar mal do Lula e culpar o governo de todas as suas mazelas: é normal, estão exercendo um direito constitucional e não estão conclamando ninguém a um golpe.

Acabou a marcha ninguém mais se lembra de nada: a vida apressada continua.

No entanto, a inteligência nacional estabeleceu que só quem pode fazer passeata são os pobres e desvalidos: quem tem alguma coisa, conseguiu ganhar alguns trocados, tem que ficar calado e dar graças a Deus, no escurinho da capela, por não ter sido ainda compelido a pedir concordata.

A elite branca, como a alcunhou o professor Lembo, não pode passear no calçadão da Avenida Paulista portando uma cartolina com um “Fora Lula” que é golpe.

Se a turma da black tie se aglomera e desfila no Leblon, protestando contra os altos preços do caviar e a péssima qualidade a que chegou a primeira classe das companhias aéreas, avermelham-se os ânimos e lembram logo a marcha da TFP: golpistas.

Para mim, não obstante, as diferenças da marcha do João Doria Jr. para a do Stedile são o estilo e a estética.

Guardadas as especificidades de cada procissão, as duas têm os mesmos objetivos políticos e são similares nos respectivos limites: ambas querem chamar a atenção para uma determinada questão da República e nenhuma tem a mínima intenção de depor o Presidente da República.  

Portanto, embora eu esteja, por motivos puramente ideológicos, mais simpático à marcha do MST, não tenho antipatia alguma ao convescote cívico da turma dos jardins: acho que já era hora desta gente perfumada suar um pouco a gabardine dos ternos.

Agora, não precisam os portadores dos cartões platinum, com a OAB junto, ficarem tergiversando a realidade: claro que o movimento é político, como o MST e etc. também são.

Todavia, não há problema algum nisto. Temos todos o direito livre da expressão e da atitude política. É através da política que se elaboram as mudanças.

Isto posto, vamos dar aos cansados os limites estritos da importância que a atitude deles alcança: o mérito de começar a ver que as mudanças se fazem à medida que toda uma sociedade se modifica.

Quem sabe, já que eles podem ter visto que não lhes fere tanto o cromo alemão dos sapatos uma volta no asfalto, na próxima passeata do MST vamos ver o João Dória Jr. do lado do Stedile, gritando em um só refrão que todos os camponeses têm direito a um pedaço de chão. 

Deixem os clientes da Daslu fazerem as suas passeatas. Tirem este negócio de golpe da cabeça. Relaxem e gozem.

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