8 de abr. de 2007

O Papa e os marxistas

Deus julgando Adão - William Blake

O Papa Bento XVI lançará um livro no dia 16 de abril. O título do livro é "Jesus de Nazaré".

O jornal italiano, Corriere della Sera, adiantou alguns trechos da obra, cuja degustação faz sentir um forte gosto da questão social.

Mais uma vez o Papa se vale de Karl Marx para ilustrar, ou ratificar pensamentos, quando descreve o homem como vítima de exploração e opressão.

Afirma, no livro, que "O homem, no curso de sua história, foi alienado, torturado, explorado. A grande massa da humanidade viveu quase sempre na opressão. Por outro lado, os opressores são uma degradação do homem".

Prossegue o Papa, agora inserindo o filosofo alemão em seu texto, "Karl Marx descreveu de maneira drástica a ´alienação´ do homem. Mesmo que não tenha atingido a verdadeira profundidade da alienação - porque raciocinava apenas em âmbito material - forneceu uma imagem clara do homem vitimado".

O Papa tem o cuidado de dizer, no prefácio do livro, que este não é um documento da Igreja Católica, mas apenas o que ele definiu como "a expressão de uma pesquisa pessoal".

Todavia, em um documento mesmo da Igreja Católica, na encíclica Deus Caritas Est, a primeira de Bento VXI, o Papa traz Marx ao texto, quando discorre sobre o binômio justiça e caridade.

O Sumo Pontífice lembra que "desde o século 19 têm havido objeções sobre a atividade caridosa da Igreja. O marxismo dizia que os pobres não precisavam de obras de caridade, mas de justiça. Há algo de verdade nessa afirmação, mas há diversos erros".

A encíclica recepciona "algo de verdade" no marxismo, embora afirme que nele há erros.

Por opor-se com veemência às posições relativistas que hoje são comuns na Igreja Católica, o Papa tem sido alvo de ataques, tanto na mídia como nos centros acadêmicos.

Fundamentam-se esses ataques ao reducionismo conservadores versus progressistas: aqueles servindo aos interesses das classes dominantes através de suas posições retrógradas e estes se posicionando ao lado dos oprimidos.

Esta dialética reducionista parte de uma perspectiva materialista para analisar a personalidade de Bento XVI e fazer previsões acerca de seu pontificado.

Como o Papa é carimbado como conservador, é fácil identificar a inspiração marxista na base ideológica dos opositores de Bento XVI.

Acredito, portanto, que as constantes referências ao marxismo nas lavras de Bento VXI, devem ser vistas como tentativas de arrefecer os ânimos daqueles que lhe fazem oposição, buscando um entendimento com os progressistas.

O livro, embora, como o próprio Papa adverte, não sendo um documento oficial da Santa Sé, deverá reforçar a posição dos progressista na Igreja Católica, cujo fôlego arrefeceu devido exatamente à posição conservadora do antecessor de Bento VX no trono de São Pedro, João Paulo II, que em sua encíclica Centesimus Annus de 1991, apontou as principais causas da riqueza das nações como sendo o capital humano, mas, também, na mesma carta, elogiou as empresas modernas, sem tecer comentários sobre a forma como estas lograram riquezas e o relacionamento das mesmas com o trabalhador.

Bento XVI, ao apor Marx no seu relato da exploração do homem pelo homem, não só parafraseia Hobbes, como arrefece, em sua "expressão de uma pesquisa pessoal", o elogio do capital feito por João Paulo II.

Eis aí, um ótimo meio termo no seio da Santa Sé.

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