26 de mar. de 2007

O chicote da insensatez

Carvoeiros carregando um caminhão - Foto de John Maier

A lógica de exploração da Amazônia, através dos planos de desenvolvimento equivocadamente elaborados para a região, tem-se revelado um desastre ambiental.

O afã do ‘desenvolvimento’ deu à luz a disposição das políticas e dos políticos a fazerem pacto até com o diabo para gerar emprego e renda, não importando a qualidade e a sustentabilidade destas pseudo oportunidades.

A massa trabalhadora, que a esta lógica empresta o suor, tangida em migrações loucas, sem outra alternativa imediata para lhes prover a despensa, faz coro com a marcha da insensatez dos arautos da Amazônia industrial.

No meso sudeste do Pará, por exemplo, respira-se fumaça para que se somem 1.5 bilhão de reais ao PIB nacional, assados nas guseiras.

Grande parte desta soma advém da exploração ilegal da floresta, para fazer o redutor do caldo que faz o gusa: o carvão vegetal.

Os carvoeiros vivem em condições medievais e desenvolvem um trabalho árduo, cuja valia é aviltada.

A atividade lhes toma cerca de 12 horas por dia. Auferem menos de um real por hora. Não têm nenhuma garantia trabalhista, pois produzem o insumo por sua conta e risco, aviados por empresas que conseguiram autorização para a queima.

Esta terceirização resulta no aviltamento da remuneração e na precarização das condições de trabalho: a cadeia de produção do carvão é digna de uma página de Steinbeck, em seu "As vinhas da ira".

Quem sua no forno e impregna os pulmões de fumaça e fuligem, inclusive crianças, recebe um ínfimo percentual do preço. Os demais, alugando o trabalho humano, captam o lucro do carvão produzido.

Está clara uma desgraçada desvalorização utilitarista da força de trabalho humano: o carvoeiro não recebe sequer para repor parte de suas energias consumidas em cerca de 300 horas de trabalho mensal.

As políticas de exploração e ‘desenvolvimento’ da Amazônia fizeram pacto com o diabo e, em troca de uma riqueza que só ao capital aproveita, entregaram a alma do trabalhador.

Há muito mais coisa por trás disto do que sonha a nossa vã filosofia e que não cabe em um artigo, mas, o resumo da tragédia, é que este banquete de poucos está sendo regado com a destruição de muitos.

É possível industrializar a Amazônia, mas a sustentação desta possibilidade só poderá ser alcançada se os paradigmas que deram régua e compasso à neurologia atual forem radicalmente modificados.

O maior valor econômico da Amazônia é a sua biodiversidade e como não sabemos o que fazer com isto, estamos acabando com ela, a ferro e a fogo.

Enquanto isto, a parte do mundo que investe em pesquisa biotecnológica, cuida de capturar a massa genética que sobra das cinzas, para depois nos vender, não a preço de ferro e nem de madeira, mas de ouro puro.

E apesar disto, as políticas públicas, continuam a financiar as serras e os fornos, assim como financiaram a dizimação das castanheiras para criar gado.

Sabe-se hoje que uma castanheira produz em um ano o que uma vaca produz em três: trocamos três por um. E se colocarmos na conta o passivo ambiental gerado na sandice, ao invés de números teremos lágrimas.

Há ainda um ponto que poucos cozem nesta marcha da insensatez: a cultura amazônica, latu sensu, está morrendo.

Se você se considera um ser amazônico, saiba que você é uma espécie em extinção.

Cabe a você escolher como agüenta o chicote: se calado ou gritando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário