5 de fev. de 2007

Quimeras ambientais

motoserra[1]

Na sexta-feira, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reuniu-se, com o Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Na pauta, a discussão da criação de linhas de crédito que financiem atividades nos distritos florestais sustentáveis e concessões de manejo florestal.

Uma das propostas discutidas no encontro é uma linha de financiamento para iniciativas dentro do futuro Distrito Florestal Sustentável do Pólo do Carajás, a ser criado no primeiro semestre deste ano.

O dito distrito tem um grave passivo ambiental: o Pólo Siderúrgico do Carajás consome, por ano, 14 milhões de m³ de lenha para carvão vegetal – boa parte oriunda de desmatamento.

A questão ambiental vem, a cada dia, ganhando mais espaço na mídia. Isto não ameniza o problema, mas é um forte elemento de sensibilização da opinião pública, que ainda não enxerga a questão com a gravidade que ela merece ser vista.

Os números do passivo ambiental que se está formando no Pólo Siderúrgico Carajás remetem a uma constatação que há muito vem sendo teclada: a degradação ambiental tem financiado o ecologicamente oneroso "desenvolvimento" do Sul do Pará.

Primeiro foram as castanheiras que cederam lugar ao pasto. Agora, a mata bruta transforma-se em carvão para alimentar a fornalha das siderúrgicas.

Nesta conjuntura, e da forma como se vêm elaborando estas linhas de financiamento, será uma quimera o que imaginam a Ministra do Meio Ambiente e o Presidente do BNDES: à lógica da iniciativa privada não interessa repor floresta e sim jogá-la abaixo.

Portanto, se o Governo Federal quer repor 1 milhão de hectare dentro do distrito Carajás, que arregace as mangas e faça o serviço ele mesmo, ou não haverá este amanhã perseguido na sexta-feira.

Eu não conheço plano de reflorestamento implementado pela iniciativa privada, que, até hoje, tenha sido factual e conseqüente.

"O financiamento do banco serviria para que grandes empresas consumidoras de produtos florestais comprassem, antecipadamente, a produção do pequeno produtor, por meio de pagamentos mensais, durante o período de crescimento da floresta (que varia de sete a 15 anos)" explica o diretor do Serviço Florestal Brasileiro.

"Isso garantiria renda para esses pequenos produtores e evitaria mais destruição florestal", conclui.

Eu não acredito nisto para a finalidade ambiental a que se propõe a tese. Haverá sim renda para o pequeno agricultor, através do financiamento de compra à grande empresa: só isto.

Na prática, o Governo estará financiando mais degradação ambiental, pois, com a estrutura precária de fiscalização que o Estado tem hoje, não será cultivada floresta alguma e sim derrubada a existente para vender como se cultivada fosse, à exemplo de práticas análogas que já agora ocorrem.

Não quero crer que haja, por parte do Governo, a credulidade de que tal arquitetura seja conseqüente.

Não seria necessário este repasse, à titulo de gestão democrática da questão ambiental, se o Estado tomasse para si a responsabilidade primeira de por a mão na massa, ou na árvore.

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