8 de jan. de 2007

Incêndio semântico





O Presidente Lula, em discurso recente sobre os episódios de violência no Rio de Janeiro, mais precisamente sobre os incêndios de ônibus, que já se tornam corriqueiros, classificou os atos de terrorismo.

O Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, não gostou e disse que o Presidente Lula usou o termo de forma inconveniente, pois incendiar ônibus na cidade maravilhosa não é terrorismo, afinal, o Oriente é mais ali.

Os especialistas na semântica da violência acompanharam o Prefeito e criticaram o Presidente Lula: nada de terrorismo, apenas atitudes criminosas do crime organizado. O pleonasmo foi meu.

Eu não sou especialista e nem Prefeito do Rio. Deve ser por isto que concordo com o Presidente Lula: tocar fogo em ônibus de linha, com gente dentro, com o intuito de matá-los, é terrorismo mesmo.

Talvez haja aí apenas uma diferença de finalidade, todavia o meio é o mesmo: terrorismo.

O crime organizado, na acepção puramente conceitual do termo, não teria porque assassinar cidadãos que não o está desafiando, tão pouco interferindo em seus lucros.

No momento em que os criminosos agem da forma como estão agindo no Rio de Janeiro, e têm agido em São Paulo, querem, na verdade, desafiar o Estado, com a finalidade de marcar o território que conquistaram ou que pretendem conquistar.

Qualquer enfrentamento do Estado constituído por parte de organizações paralelas, através da disseminação do terror nos meios civis, seja lançando bombas ou incendiando ônibus, é terrorismo e como tal deve ser tratado.

O Presidente da República, portanto, tem toda razão ao sugerir uma legislação específica que proporcione um tratamento mais draconiano no combate às organizações criminosas que apelam para o terrorismo como forma de afirmação e visibilidade.

Tais ocorrências devem ser tratadas como crimes federais e a Polícia Federal deve ser aparelhada para recepcionar tal incumbência.

Não se trata de juízo pejorativo de valor sobre as policias estaduais, todavia, objetivamente, está visível que estas não têm tido sucesso na abordagem do problema, que cada vez mais se agrava no Brasil, a ponto de, em certos espaços, o crime organizado já ser um estado paralelo.

Deve-se esperar que o Presidente Lula, independente do debate semântico, não fique apenas na sugestão, mas, efetivamente, envie ao Congresso um Projeto de Lei que dê tratamento diferenciado aos terroristas que começam a fazer escola no Brasil.

Que Deus nos livre, caso esta situação não seja tratada com a gravidade que ela demanda, em breve tempo, seremos consternados com imagens de crianças com armas apontadas as suas cabeças, como vemos fazerem os terroristas na Rússia, a troco de verem seus comparsas liberados das prisões do Estado.

Espero que isto jamais ocorra no Brasil, todavia, não vejo muita distância entre isto e um ônibus sendo incendiado com gente dentro, impedida de sair.

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